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quinta-feira, 15 de abril de 2010

JORNAL NACIONAL - 06/11/2003


Jovens desaparecidos

06/11/2003 Milhares de panfletos sobre a região de Embu-Guaçu e Juquitiba, perto de São Paulo. Neles, Ari Friedenbach mandou imprimir a foto da filha. Mais uma iniciativa na busca que já dura cinco dias. No meio do mato, ele acompanha os policiais à procura de Liana, 16 anos, e do namorado, Filipe Silva Café, de 19. Cães farejadores, localizadores por satélite. E os policiais não encontram respostas para o mistério no sítio abandonado onde o casal estava acampando. Hoje eles sabem o mesmo que na segunda, quando chegaram ao sítio e encontraram a barraca, armada sob um caramanchão, as mochilas com as roupas e o telefone celular da menina. Não há sinais de que eles entraram no mato. O caseiro de um sítio vizinho disse à polícia que na madrugada de domingo ouviu gritos de um homem pedindo socorro. "Sequestro pode ser uma das possibilidades, pode ser um desaparecimento voluntário. Como não existe nada de concreto, temos que trabalhar com um leque aberto", explica o delegado Paulo Koch. A mãe procura explicações. A filha mentiu quando saiu de casa na sexta-feira - disse que ia para a praia com amigas. Só no domingo, quando Liana não apareceu na hora marcada, os pais descobriram que ela tinha ido para o sítio com Filipe, com quem namorava há um mês. Lendo as cartas que ele escreveu pra Liana, a angústia da mãe só aumenta. "Você não parece a menininha insegura como era quando nos conhecemos. Vejo uma mulher decidida, que sabe bem o que quer. Qualquer decisão que você tomar eu serei o primeiro a te auxiliar", dizia a carta. "Eu não sei que decisão seria essa. Não sei. Poderia ser de fugir. Mas é aparentemente estranho, porque ela deixou coisas pra eu comprar quando ela chegasse", diz a mãe de Liana, Márcia Friedenbach. O pai não vê razões para que os dois fugissem. O namoro não era proibido.E ele joga as esperanças na hipótese de uma aventura que não deu certo. "A gente quer eles aqui, de braços abertos, tanto o Filipe quanto a Liana. Não precisa ter receio se deu alguma coisa errada, volta pra gente. É só o que as famílias querem", pede o pai Ari Friedenbach.

Dor na despedida

11/11/2003 Cemitério de Vila Alpina, Zona Leste. Para muitos dos adolescentes presentes, o primeiro contato com a morte - a de um amigo de 19 anos que há poucos dias era companheiro de acampamentos. A mãe que enterra o filho vê a ordem natural do mundo invertida. Culpa-se por não ter sido mais rígida, quando Felipe disse que ia acampar com os amigos: "Eu deveria ter checado". E não deixa a dor tomar conta. "Tenho que continuar. Ele não é filho único, tenho outros filhos", desabafa Lenice Caffé. Lenice já não acreditava que o filho estivesse perdido. Quando ele desapareceu, a mãe passou dois percorrendo todas as trilha do sítio, com o filho mais velho, policial do esquadrão de buscas. Lá conheceu o pai de Liana, que durante os dez dias de procura não deixou de acreditar. "A gente quer eles aqui, de braços abertos. Tanto o Felipe como a Liana não precisam ter receio - se der alguma coisa errada, volta para a gente", pediu Ari Friedembach, pai de Liana, durante as buscas. Ele ficou ao lado dos policiais, fez apelos a testemunhas, jogou dez mil panfletos com a foto da filha sobre a região. E foram eles que levaram a Liana e Felipe. Mas já era tarde. Na área da Serra do Mar a maioria das casas não tem energia elétrica, telefone ou televisão. No domingo, um morador foi até a vila mais próxima, a 11 quilômetros, e lá reconheceu a foto de Liana, num dos panfletos jogados de helicóptero pelos pais. Ele tinha visto a adolescente acompanhada de um menor suspeito de crimes na região, perto de um outro sítio, também abandonado. A apenas três quilômetros de onde o casal desapareceu. Nesta terça-feira, no Cemitério Israelita, Zona Oeste de São Paulo, a família que não economizou palavras na busca, silenciou na dor. Depois do enterro, a família Friedembach divulgou a seguinte nota: "Agradecemos a todos pela demonstração de carinho e de compaixão nessa hora de dor, pela trágica perda de Liana. Pedimos, também, a compreensão de todos, e em especial da imprensa, que tanto ajudou em seu papel de divulgação e apoio às investigações, para que preserve e respeite nossa necessidade de privacidade".

Recado aos jovens

12/11/2003 "Eu gritei, eu falei, voei, corri, andei, fiz tudo. Ela tava tão perto do lugar das buscas. Você não imagina o que me dói isso. Não imagina o que eu sinto", desabafa o pai de Liana, Ari Friedembach. Como os pais acham forças? "Não sei. Eu acho que eu não cai na real, sabe, assim. De vez em quando eu me desespero, mas na maioria do tempo parece que eu estou vendo um filme que não é comigo". Ari Friedembach pensa na mentira que Liana contou para acampar com Felipe. Se sente na obrigação de falar com quem tem a idade da filha que se foi. "Antes de contar mentirinha boba de adolescente, que não é uma coisa grave, pense nas conseqüências do que vocês estão fazendo, conversem com seus pais, não tenham eles como vossos inimigos, tenham eles como seus melhores amigos. E eles são". Revolta ao falar do suspeito do crime. "Me deixa maluco saber que um cara desses vai para a Febem e em no máximo três anos ele está na rua. Sabe, ele tirou a vida da minha filha, como é que o cara pode ir prá rua?". O menor já respondia por outro assassinato. "O que ele tava fazendo na rua, me conta? Onde está o Estado? É uma tremenda omissão. Todos os investigadores sabiam quem ele era. Não venham me dizer que ele é vítima. Vítima é o Felipe, que era um cara esforçado, trabalhador, que foi distribuir panfleto para ganhar R$ 15 reais pra viajar com a minha filha". Respeito por Felipe, saudades da filha. "A imagem que mais vai ficar é a dela rindo. A Liana era muito alegre, muito risonha. Ela ria de tudo o que eu falava. Por isso que eu não quis ver corpo nenhum. Eu quero lembrar dela sorrindo, uma pérola. Uma jóia que levaram embora".

Maioridade penal

14/11/2003 O debate foi a reação a um crime bárbaro. Como impedir que isso se repita com tanta freqüência neste país? O pai da menina assassinada quer a redução da idade penal. Ontem o ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, se declarou contra. "Você vai submeter uma pessoa que ainda está em processo de formação a esse convívio terrível que é o convívio do sistema prisional. Eu sou radicalmente contra pela inutilidade e pela falta de sentido que isso significa", afirmou o ministro. Hoje o pai de Liana, Ari Friedenbach reagiu: "Quem tem cabeça para matar, tem que ter cabeça para cumprir pena. Eles estão deformados para o resto da vida. Jamais vão ser recuperados, com certeza". O ministro da Justiça não quis voltar ao assunto hoje. Em São Paulo, o governador Geraldo Alkmin, fez uma proposta. "É necessário você ter limites. Então nós defendemos não a mudança da maioridade penal para 18 anos, para 16 anos, porque isso significaria uma mudança constitucional mais complexa. Mas uma mudança imediata no Estatudo da Criança e do Adolescente, para aperfeiçoar uma lei que é boa, mas que na prática acaba, através da impunidade, estimulando o crime", acredita o governador. Em Brasília, o Secretário Nacional dos Direitos Humanos, Nilmário Miranda, defendeu o aperfeiçoamento do estatuto. Mas deixou claro que é contra a redução da maioridade penal. "Espero que isso sirva de reflexão para aqueles governantes, governadores, prefeitos, que se recusem a implementar o Estatuto da Criança e do Adolescente, que mantém uma aberração como a Febem de São Paulo, que mantém instituições completamente superadas com o Instituto Padre Severino do Rio de Janeiro. São velhos internatos que continuam desafiando a lei", afirma o secretário. Outra posição contrária à redução da maioridade penal é do presidente do Superior Tribunal de Justiça, ministro Nilson Naves. Em nota oficial ele disse que esse "não é o caminho certo para regredir a criminalidade." A Confederação Nacional dos Bispos do Brasil também se manifestou. "A posição oficial da CNBB é contra o rebaixamento da idade penal. Há uma compreensão de que a criança e o adolescente não pode ser discutido fora da filosofia geral do estatuto, que prevê condição de desenvolvimento digno pra todas as crianças, que combate inclusive qualquer tipo de exclusão social ou até de distorções na sua formação", diz a coordenadora do Caritas/CNBB, Márcia Acioli. Não é uma questão fácil, porque não tem só dois lados. "Dizer que o jovem pode votar mas ele não pode ser responsabilizado pelo crime, é um assunto que deve ir a debate no país porque a criminalidade está aumentando muito", diz Zilda Arns, coordenadora da Pastoral da Criança. O núcleo de estudos da violência da USP defende que o país não deve discutir só quando e como punir. Mas buscar um amplo programa de prevenção, para evitar que tantas crianças e adolescentes brasileiros acabem no caminho do crime. "Eu acho que isso não pode ser discutido como uma medida isolada. Nós temos que discutir um pouco qual é a polícia que nós queremos, a justiça que nós queremos, nós queremos discutir que sociedade é essa. Mas que isso seja uma política efetiva", defende Sérgio Adorno, do núcleo de estudos da violência da USP.

Punição para menores

14/11/2003 Thomas chora ao confessar para a mãe que matou porque estava bêbado. No tribunal, o juiz decide. Apesar de ter 14 anos, ele vai ser julgado como adulto, sujeito a uma pena mínima de 25 anos. Na Flórida, os irmãos adolescentes que mataram o pai também foram julgados como adultos - mas o juiz decidiu que eles deveriam cumprir a pena num centro penal para adolescentes. No equivalente da Febem americana, os jovens tem maiores chances de reabilitação. Na Flórida, Valessa foi julgada como adulta e condenada a 20 anos por ajudar a matar a mãe. Pesquisadores dizem que os adolescentes quase sempre agem sob influência de adultos - os cúmplices de Valessa tinham 19 anos de idade. Nos Estados Unidos, é preciso ter 18 anos para votar, 21 para comprar bebida alcoólica. Mas não há idade mínima para um jovem ficar sujeito a longas penas de prisão. Críticos usam a ciência para rejeitar a punição dos menores. Um estudo do Instituto Nacional de Saúde Mental demonstrou que a área do cérebro responsável pela impulsividade e pela avaliação de conseqüências só fica completa aos 20 anos de idade. Ainda assim, há menores no corredor da morte em vários estados americanos - até hoje, 288 já foram executados. Um crime hediondo, que abalou o país exatamente há dez anos, é o parâmetro da justiça britânica para a punição de menores. Em 1993, Jon Venables e Robert Thompson eram crianças de 10 anos de idade quando foram presos pelo assassinato do menino, James, de apenas 2 anos. Eles seqüestraram o menino num shopping center, onde a mãe fazia compras, e o mataram a pedradas. Os menores assassinos foram julgados como se fossem adultos e receberam uma primeira sentença de oito anos de cadeia, sugerida pelo juiz do caso. E o ministro do Interior, que antigamente era encarregado da sentença final, quase dobrou a pena para 15 anos de cadeia. A família recorreu ao tribunal europeu de direitos humanos, que considerou o julgamento injusto e manteve a primeira sentença de oito anos. Os dois cumpriram a pena integral numa cadeia que no Brasil lembraria um hotel de luxo. Como acontece em todos os casos, quando atingiram a idade adulta os dois menores foram submetidos a uma revisão da pena. Uma comissão da justiça avaliou que o sistema de cadeia com tratamento digno havia funcionado bem. Os dois assassinos ganharam a liberdade, com direito a mudar de nome para não serem discriminados nas ruas.

Reconstrução do crime

14/11/2003 A peixeira, de lâmina forte, ainda com resquícios de sangue, foi usada para matar Liana. O cartucho, disparado para assassinar Felipe. As armas, e uma calça manchada de sangue - que foi usada pelo menor - estavam escondidas num poço perto da casa do adolescente que confessou o assassinato do casal. Uma acareação feita hoje entre os cinco presos envolvidos nos assassinatos permitiu à polícia saber os detalhes do crime. O seqüestro aconteceu no sábado, dia 1º de novembro, às 19h. O casal descansava na barraca e foi abordado pelo menor e por Paulo César Marques, o Pernambuco. "A primeira cena foi de uma faca entrando na barraca. Em seguida abriram o zíper, renderam o casal com a arma e uma faca, se serviram de vinho, comeram pão e vistoriaram os pertences", conta o delegado Silvio Belangio. Segundo a polícia, quando eles viram que os dois não tinham dinheiro, levaram o casal. Descobriram que a família da estudante tinha posses e decidiram ficar com ela e pedir um resgate. Durante todo o tempo em que esteve com os criminosos, Liana foi vítima de violências. Felipe foi executado no domingo de manhã, por Pernambuco - com a arma que pertencia ao menor. Na segunda-feira cedo Pernambuco tentou fugir para a São José do Egito, cidade onde nasceu. Foi preso ontem, perto de Petrolina. Segundo a polícia, Antonio Caetano emprestou a casa e forneceu alimentos ao bando. Tanto ele como Agnaldo Reis teriam participado dos atos de violência. Antonio Mathias guardou a espingarda e nada fez para salvar Liana. De acordo com as investigações, quando Felipe foi morto, a moça estava a cem metros do local, sob a guarda do adolescente. "A Liana teria perguntado o que aconteceu com o Felipe. Disseram que ele foi liberado. Mas, evidentemente, a Liana teve consciência de que não era realidade porque o estampilho de uma arma dessa é audível há dezenas de metros de distância", diz o delegado. Em seguida, foi levada para o cativeiro e três dias depois, na quarta-feira às 3h, executada pelo menor - sem a presença do resto da quadrilha. A polícia não tem dúvida de que foi ele quem idealizou o seqüestro do casal e comandou o grupo. Em momento algum ele demonstrou arrependimento. "A impressão que ele passa é que ele realmente é impune. É preciso que os menores saibam que eles não estão impunes. Estão sujeitos a medidas de custódia e internação na Febem", afirma o delegado. Por segurança, a polícia de São Paulo não informou onde os quatro acusados ficarão presos.

Qual o tamanho do castigo?

15/11/2003 Menores envolvidos em crimes de sangue, sabem eles o que fazem? "Ele tem prazer de estar fazendo um crime e isso não tem idade. É por isso que, se daqui a três anos, esse garoto sair, ele pode matar novamente. Porque na verdade, para ele, o respeito pelo próximo não existe, muito mais quando ele sabe que é imune a isso", afirma a psiquiatra forense Isa Kabacznik. Como tratar quem tem menos de 18 anos de idade e sabe o que fez? O Brasil possui uma avançada lei que protege o indivíduo em formação: é o Estatuto da Criança e do Adolescente, existente há 13 anos. Conhecido como ECA, o estatuto garante à criança e ao adolescente acesso a educação e saúde e, no caso de ele ter cometido delitos, dá ênfase à recuperação e à ressocialização. O ponto que se tornou polêmico no estatuto é o dispositivo que proíbe a internação do infrator por mais de três anos ou além dos 21 anos de idade. Defensores do estatuto afirmam que o poder público sequer tem cumprido a lei. Os críticos dizem que o ECA trata da mesma maneira quem furtou um objeto e quem matou. "Em geral, o ECA atende bem à expectativa de ressocialização do menor desamparado. É uma lei de boas intenções, porém, nós temos que fazer com que uma nova lei preveja essa situação específica, dando a ela um tratamento jurídico distinto dos outros menores que não cometem crimes de violência ou de sangue", acredita o presidente do Instituto Brasileiro de Ciências Criminais, Luiz Flávio Gomes. "O período de três anos sequer está sendo cumprido. Em uma visão séria, desapaixonada, vamos verificar se isso tem sido eficiente ou não, e o grau de eficiência é a reincidência. Se isso conseguir uma reinserção social, ótimo, estamos no caminho certo. Se não, nós vamos buscar outras alternativas", defende Paulo Afonso Garrido de Paula, co-autor do ECA. Quem acha que o Estatuto da Criança e do Adolescente está bom como está e quem diz que a lei tem que mudar tem um problema: evitar a sensação, muito comum entre os menores envolvidos em delito, de que o castigo acaba sendo menor do que o crime.

Barbárie reencenada

17/11/2003 A polícia bloqueou o acesso ao local do crime e não permitiu que os jornalistas acompanhassem a reconstituição. As imagens da matéria foram feitas por um cinegrafista amador. Ele registrou a chegada dos principais acusados: um menor de 16 anos e Paulo César Marques, o Pernambuco. Primeiro eles reconstituíram a assassinato de Felipe. Dois políciais faziam perguntas: "Ele foi andando na frente e você atrás? Você com a arma apontada nas costas dele?", pergunta um dos políciais. "Sim", responde Pernambuco. "Chegou no local você falou o quê? Pára que nós vamos ficar por aqui? O que você falou?", continua o polícial. "Isso", responde o acusado. Segundo a polícia, Pernambuco confessou que matou Felipe com um tiro na nuca. A namorada de Felipe ainda passou mais quatro dias com os criminosos. A perita encarregada do caso ficou impressionada com a frieza do menor, ao contar como matou Liana. "Ele é totalmente frio, é chocante", diz a perita. Com a reconstituição, a polícia diz que tirou todas as dúvidas a respeito do crime. Até o fim de semana o caso já estará na Justiça. Os envolvidos vão responder por homicídio, seqüestro, tortura e violência sexual. Nesta segunda, o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, disse que vai encaminhar à Câmara dos Deputados uma proposta de mudança para o Estatuto da Criança e do Adolescente. O governador quer que o Estatuto defina com clareza o tempo de punição para cada tipo de delito, que a partir dos 18 anos o infrator seja transferido para uma penitenciária comum - mas fique separado dos outros presos - além do fim do limite de três anos de internação - com o tempo de punição proporcional à gravidade do crime. "Hoje qualquer que seja o crime - um crime, dois, três, quatro, cinco, seis - não passa de três anos (a punição), e sai com a ficha limpa. Isto não educa, isto deseduca", critica o governador. Nesta segunda o ministro da Educação criticou a idéia de mandar os jovens mais cedo para cadeia. "A elite brasileira quer resolver este problema da violência diminuindo a idade que as crianças vão para a cadeia, em vez de aumentar a idade que elas saem da escola. O grande problema nosso é que estão saindo cedo demais da escola - não saem com a formação necessária", argumentou o ministro Cristóvam Buarque.

Sábado de protesto

22/11/2003 De cima de um carro de som, mensagens de paz e de justiça. Embaixo, pessoas comovidas com o pedido. Com a foto da filha e do namorado dela no peito, o advogado Ari Friendenbach puxou a caminhada. Liana Friendenbach e Felipe Caffé foram seqüestrados e mortos em Embu-Guaçu, na Grande São Paulo. O principal acusado do crime é um adolescente de 16 anos. Ele e outros quatro homens estão presos. O pai soube que o menor foi interrogado pela polícia e posto em liberdade. Horas depois matou Liana. Informação que a secretaria de segurança não quis comentar. "A policia estava investigando e não teve nenhuma acusação para prendê-lo. Mas, eles fizeram o trabalho deles", diz Ari. Detalhes de um crime que aumentaram a indignação dos manifestantes. O rabino Henry Sobel chegou a defender punições mais severas para quem comete crimes hediondos. "O judaísmo condena categoricamente a pena de morte. Mas, como o indivíduo, como cidadão e principalmente como pai, neste caso de Liana e Felipe eu defendo a pena de morte", disse o rabino. Uma proposta polêmica, condenada por vários setores da sociedade, como a igreja católica e defensores dos direitos humanos, e até mesmo por alguns manifestantes. "Eu não concordo. Acho que nós temos que mudar a nossa reflexão, educação e respeito", afirma Clarice Betiati. Segundo a Polícia Militar, cerca de cinco mil pessoas, vestidas de branco participaram da passeata. A manifestação acabou com uma concentração na Assembléia Legislativa de São Paulo. Pessoas que perderam parentes por causa da violência começaram a discutir com políticos mudanças no Estatuto da Criança e do Adolescente. O documento entregue a deputados estaduais e federais pede mais rigor nas punições a quem comete crimes violentos e a redução da maioridade penal. "Quem empunha uma arma sabe o que está fazendo. Quem vota sabe o que está fazendo. Portanto, assuma seus crimes também", defende Lenice Caffé, mão de Felipe.

Maioridade em discussão

25/11/2003 Foi uma peregrinação pelos gabinetes do Congresso. O advogado Ari Friedenbach visitou senadores e deputados. Defendeu que menores de 18 anos sejam punidos pelos crimes que cometerem. A filha dele, Liana, foi assassinada em São Paulo há três semanas. Um dos acusados é um adolescente de 16 anos. "Alguma coisa tem que acontecer. Do jeito que está não vai poder ficar. A população está gritando por alguma solução", pede o pai da estudante, Ari Friendembach. O advogado entregou à mesa do Senado mais uma proposta sobre o assunto. O projeto do senador Magno Malta estabelece a redução da maioridade penal para 13 anos em caso de crimes hediondos, como homicídio e estupro. "Eu acho que quem tem 13 anos já tem consciência do que faz. Mas ela pode muito bem ser mudada dentro da discussão ou para 14, ou para 15 ou para 12, eu não sei. Nós temos é que discutir o assunto", diz o senador Magno Malta, autor do projeto. Ao todo agora são 23 projetos em tramitação no Congresso que tratam da redução da maioridade penal - assunto que sempre provoca muitas discussões. Assim que a idéia foi apresentada hoje no plenário do Senado vieram as críticas. "Eu acho, sinceramente um exagero, eu não estou persuadido de que esta é a maneira de diminuir a criminalidade violenta no Brasil", opina o senador Eduardo Suplicy. "Onde é que nós vamos parar? 13 anos? Isso no fundo reflete uma posição de irracionalidade. De tratamento irracional de um problema que existe, que é grave, mas que não se soluciona dessa forma", critica o senador Saturnino Braga. Outra proposta que está no Congresso é a do governador de São Paulo, Geraldo Alckmin. Ele sugere mudanças no Estatuto da Criança e do Adolescente - aumentando a tempo de detenção do menor que comete crimes hediondos. Atualmente o prazo máximo de punição é de três anos.

Presidente Lula se manifesta contra redução da maioridade penal

26/11/2003 A Câmara criou hoje um grupo de trabalho para discutir projetos que alteram o Estatuto da Criança e do Adolescente. Quase 40 propostas serão avaliadas por 21 deputados. Hoje, o pai da jovem assassinada com o namorado, em São Paulo, se encontrou com o ministro da Justiça para defender a redução da maioridade penal. Um dos acusados do assassinato do casal tem 16 anos. O advogado Ari Friedenbach sugere um plebiscito para que a sociedade opine sobre a redução da maioridade penal. O ministro Marcio Thomaz Bastos, que é contrário à mudança na maioridade, disse que vai estudar as sugestões de combate à violência. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse hoje ao presidente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, dom Geraldo Majella, que é contra a redução da maioridade penal no Brasil. Para Lula a diminuição da idade não vai resolver o problema da violência. É a mesma posição defendida pela CNBB. Segundo dom Geraldo Majella, o presidente Lula concordou com a posição da CNBB de que não se deve discutir mudanças na lei no calor dos últimos acontecimentos.

Pais se unem contra violência

20/03/2007 A cada crime covarde, desses que deixam o país inteiro indignado, os brasileiros têm assistido ao surgimento de uma categoria especial de cidadãos. Mães e pais que perderam filhos para a violência e que buscam um sentido para a vida na defesa da paz e do fim da impunidade.

O casal de psicólogos usa o computador para se comunicar com outros pais que também precisam de ajuda. Desde que a filha Gabriela, durante um assalto no metrô do Rio, há quatro anos, Cleide e Santiago se transformaram em voluntários da luta contra a violência.

"Hoje, eu não sei como seria a minha vida sem essas milhões de atividades que a gente tem. Hoje, eu vivo 24h, de domingo a domingo, a violência, tentando confortar famílias, participando de manifestações, passeatas, seminários, dando palestras", diz a mãe de Gabriela,Cleide Maia.

Cleide não falta a nenhum desses compromissos. Tenta levar o conforto para famílias como a de Edna, que perdeu a filha Alana, vitima de uma bala perdida.

"O importante é saber quem matou a minha filha", indigna-se a mãe de Alana.

Como se recuperar da dor suprema da perda de um filho? Como não se deixar levar apenas por sentimentos de ódio e raiva? Algumas famílias que passaram por este sofrimento extremo descobriram que tinham recebido uma nova missão: transformar o luto em luta.

"Você vai ou seguir um caminho de luta e de transformar essa dor em algo positivo ou você toma um caminho de se entregar a depressão", diz Ari Friedenbach.

O paulista Ari Friedenbach perdeu a filha, Liana, de 16 anos, assassinada de maneira brutal por assaltantes quando acampava com o namorado há três anos. Agora, ele usa os conhecimentos que tem como advogado para propor mudanças na lei. "As pessoas que não caem, simplesmente, no desespero ou na vingança, têm uma função social enorme. Acho muito importante que essas pessoas procurem pensar em conjunto", afirma o pai de Liana, Ari Friedenbach.

Ota e Iolanda são um casal pioneiro nessa luta. Depois que tiveram o filho seqüestrado e morto, em 1997, por bandidos resolveram criar uma organização para apoiar outras famílias.

“Um recadinho que eu dou para mães, pais que perdem filhos: não fiquem de braços cruzados, porque a gente precisa se unir, porque nós viemos para esse mundo para transformar isso aqui em paraíso, não em guerra”, ressalta a mãe de Yves, Iolanda Keiko Ota.

Elson e Rosa Cristina são os mais novos participantes da corrente de solidariedade. Como outros pais, eles fizeram camisetas com a foto do filho, João Hélio, arrastado durante um assalto no Rio.

"A violência chegou num nível tão crônico que teria que dar um basta. Não é possível mais nenhuma mãe ter um sofrimento desses", desabafa a mãe do menino, Rosa Cristina Fernandes.

O casal diz que quer se envolver cada vez mais na luta, com a esperança de que outros pais não sofram como eles.

“É um trabalho de formiguinha, mas é tudo em nome da paz. É tudo que a gente precisa para essa missão que nosso filho deixou”, conta o pai de João Hélio, Elson Vieites.

Julgamento de envolvidos em assassinato de adolescentes

18/07/2006 Começou na Grande São Paulo o julgamento de três acusados de envolvimento no assassinato do casal de adolescentes Liana Friedenbach e Felipe Caffé, em 2003.

A polícia isolou o prédio da Câmara Municipal de Embu-Guaçu, temendo represálias contra os réus.

Agnaldo Pires é acusado de estuprar Liana Friedenbach. Antonio Caetano é julgado por manter o casal em cativeiro e por colaborar com a violência sexual.

Antonio Matias, além de colaborar com o seqüestro, responde por esconder uma das armas usadas no crime. Os estudantes foram seqüestrados em novembro de 2003. Felipe foi morto no dia seguinte. Liana passou mais quatro dias sofrendo abusos da quadrilha antes de ser morta a facadas.

O pai de Liana não quis acompanhar o julgamento. Ele depôs como testemunha de acusação e não quis ficar frente a frente com os réus, que foram retirados.

Diante do júri formado por seis homens e uma mulher a defesa pretende alegar que os réus só participaram do crime porque tinham medo. Teriam sido coagidos pelo adolescente que é acusado de ser o mentor do seqüestro.

“Que homens são esses que se deixam manipular por um menor de 16 anos. Eles se omitiram. Um apenas seria suficiente para os dois estarem vivos hoje. A participação é igual de todos”, falou a mãe de Felipe, Lenice Silva Caffé.

O assassino de Liana, Roberto Cardoso, o Champinha nunca será julgado - ele era menor na época do crime e pode ser solto daqui a quatro meses. Mas um laudo psiquiátrico atesta que Champinha é perigoso e não tem condições de ser posto em liberdade.

“Ele é um psicopata, é um doente, é perigoso. O único caminho dele é o manicômio judiciário para que ele não volte a matar”, afirmou o pai de Liana, Ari Friedenbach.

Julgamento perto do fim

19/07/2006 Deve terminar nas próximas horas o julgamento dos três acusados de colaborar com o seqüestro e morte de Liana Friedenbach e Felipe Caffé. O casal foi assassinado em 2003.

Os três acusados chegaram juntos à Câmara Municipal de Embu-Guaçu e foram levados para o plenário algemados.

Logo depois, os sete jurados desembarcaram em frente ao prédio para o que prometia ser o último dia de julgamento. Não houve atrasos e pontualmente 10h15 foi retomada a leitura do processo.

A acusação apresentou roupas encontradas no cativeiro onde Liana Friedebach foi violentada e morta a facadas e também mostrou as armas do crime, entre elas a espingarda usada para matar Felipe Caffé, que teria sido escondida por um dos réus, Antonio Matias.

À tarde o julgamento entrou na fase final. Defesa e acusação tiveram três horas cada um para convencer os jurados. A juíza ainda reservou duas horas para a conclusão do debate. A tentativa da defesa era diminuir a pena já que os acusados não participaram diretamente do assassinato das vítimas.

“Eles tiveram uma participação em crimes paralelos, mas não propriamente o duplo homicídio”, diz Armando Sampaio Rezende Jr, advogado de defesa.

Mas a promotoria queria punição exemplar com base no argumento da omissão.

“Você tanto pratica um crime quando você dá um tiro numa pessoa ou quando você fica sentado olhando essa pessoa dar um tiro. Você está se omitindo”, aponta Andrea Zuppa, assistente de acusação

Os pais de Felipe fizeram questão de acompanhar o julgamento.

“Enquanto estiverem presos, outros não serão ameaçados. É a única tranqüilidade que nesse momento teve condição de me trazer”, falou a mãe de Felipe, Lenice Caffé.

No começo da noite, o pai de Liana esteve na Câmara.

“Eu acho que o mínimo que se espera é que eles respondam pela atrocidade que cometeram”, pede Ari Friedenbach , pai de Liana.

Pernambuco é julgado por morte de Liana e Felipe

07/11/2007 Começou, nesta quarta-feira, o julgamento do último acusado de participação nas mortes do casal de jovens Liana Friedenbach e Felipe Caffé, na Grande São Paulo, em 2003.

Policiais bloqueiam a rua e reforçam a vigilância na Câmara Municipal de Embu-Guaçu, transformada em plenário para o júri. O réu Paulo César Marques, o Pernambuco, passa perto de Ari Friedenbach, pai de Liana, enquanto ele fala sobre o crime.

“É muito sofrido voltar aqui. É muito sofrido viver tudo isso de novo. Nada disso traz a Liana de volta. Ela faz muita falta para a gente”, diz Ari.

O julgamento começa. Diante de quatro mulheres e de três homens que formam o corpo de jurados, Pernambuco muda a versão e diz ter confessado o crime sob tortura. “Ele tem que ser condenado por aquilo que fez. Não pode abraçar, na verdade, outras condutas de outros réus”, enfatiza o advogado Marcelo Fernandes Pinto, que defende Pernambuco. “Ele (Pernambuco) balança a cabeça quando as coisas são ruins para ele, como se estivesse negando. Está fazendo teatro”, afirma Andréa Zuppo Franco, advogada de acusação.

Em novembro de 2003, Liana, de 16 anos, e Felipe, de 19, acampavam em Embu-Guaçu quando foram seqüestrados e mortos. Felipe levou um tiro na nuca. Liana foi estuprada e morta a facadas. O único menor que participou do crime está na Fundação Casa, a antiga Febem. Os outros três acusados estão cumprindo penas que vão de 8 a 124 anos de prisão.

Na tarde desta quinta-feira, terminou a leitura das peças do processo. Logo em seguida, começaram a ser ouvidas oito testemunhas. Entre elas estão o pai de Liana e a mãe de Felipe. O julgamento deve ser interrompido até o final da noite e retomado na manhã de quinta-feira, com os debates entre defesa e a acusação. A sentença deve sair na noite de amanhã.

Condenado assassino de namorados

Recebeu, nesta quinta-feira, a pena de 110 anos de prisão, Paulo César Marques, o Pernambuco. Ele é o último réu julgado pelo assassinato cruel de um casal de namorados, na Grande São Paulo, há quatro anos.

08/11/2007 Foi condenado, nesta quinta-feira, a 110 anos de prisão, Paulo César Marques, o Pernambuco. Ele é o último réu julgado pelo assassinato cruel de um casal de namorados, na Grande São Paulo, há quatro anos.

O abraço da mãe de Felipe Café com a assistente de acusação mostrou que o julgamento tinha acabado. O réu foi condenado. “Eu estava vivendo com dois pesadelos. Agora passo a viver com um: a morte do meu filho”, desabafou a mãe de Felipe Café, Lenice Café.

Foi o resultado de dois dias de julgamento em Embu Guaçu, na Grande São Paulo, onde Liana Friedenbach e Felipe Café foram torturados e mortos em novembro de 2003.

Nesta quinta-feira, o júri recomeçou quando Pernambuco foi levado para o plenário. Os debates entre defesa e a acusação duraram o dia todo.

Na hora do almoço, a defesa não quis falar, mas a promotoria saiu confiante. “Eu tenho plena convicção de que eles farão efetivamente justiça condenando o réu a todos os crimes que ele praticou”, afirmou o promotor Norberto Jóia.

Ari Friedenbach, pai de Liana, só chegou para acompanhar a leitura da sentença. Os pais de Felipe Café assistiram a todo o julgamento.

Dos cinco homens que torturaram e mataram Felipe e Liana, só Champinha não foi julgado, porque era menor de idade na época do crime. Ele está internado na Fundação Casa, a antiga Febem, de onde terá que sair até 9 de dezembro, quando completa 21 anos.

A mesma juíza que presidiu o julgamento desta quinta-feira vai decidir, nos próximos dias, o futuro de Champinha. “Eu acredito que o estado vai ter responsabilidade para mantê-lo preso”, disse o pai de Liana.

Os advogados do réu Pernambuco avisaram que vão recorrer.

Champinha é recapturado e se torna um problema para a Justiça

03/05/2007 A fuga e a recaptura do assassino responsável por um dos crimes mais brutais dos últimos anos provocaram um debate intenso entre as autoridades, em São Paulo.

Dois fugitivos. Dois recapturados. Roberto Aparecido Alves Cardoso, o Champinha, de 20 anos, e um menor passaram a madrugada na rua. Foram encontrados hoje cedo depois que Champinha telefonou para casa.

“A família dele forneceu o endereço do local onde ele estava", afirma o tenente Marcelo Alves da Silva.

Champinha e o menor fugiram ontem à noite desta unidade da Fundação Casa, a antiga Febem. Eles pularam o muro de sete metros com o auxílio de uma escada. O diretor e 19 funcionários foram afastados.

A corregedoria da Fundação Casa vai apurar se algum funcionário recebeu dinheiro para facilitar a fuga. A presidente da entidade já disse não não sabe se houve facilitação mas afirma estar convencida de houve uma negligência, um descuido.

Para Berenice Gianella, o convívio de Champinha com os monitores era amistoso e ninguém na unidade imaginava que ele pudesse fugir. Os funcionários começaram a ser ouvidos hoje numa sindicância interna.

O Governo e a Justiça passaram o dia com um dilema. O que fazer com Champinha, que aos 16 anos matou Liana Friedenbach e participou do assasinato de Felipe Caffé, em 2003?

Ele já cumpriu o período de internação sócio-educativa, mas não foi liberado porque os laudos mostram que Champinha não têm condições de viver em sociedade.

O secretário de Justiça do estado pediu a transferência de Champinha para a Casa de Custódia de Taubaté, um lugar para presos adultos com problemas psiquiátricos.

"Se hoje ele é maior de 18 anos, eu não vejo nenhum motivo legal que impeça essa transferência", afirma o secretário de Justiça Luiz Antonio Marrey.

O Ministério Público pediu que Champinha continue na Fundação Casa.

"A minha sugestão é que se ative essa unidade que está lá há seis meses inaugurada e sem ninguém lá dentro”, diz Wilson Tafner, promotor da Infância e da Juventude.

No fim da tarde, a Justiça decidiu que em 24 horas a Fundação Casa tem que aprontar esta nova unidade para receber Champinha. A presidente da fundação diz que vai cumprir a decisão, mas vai recorrer porque a nova unidade não atende às necessidades de Champinha.

"Essa unidade é para pessoas com comportamento anti-social. O Roberto não tem comportamento anti-social", acredita Sonora Berenice Gianella, presidente da instituição.

Diante do impasse, o pai da menina assassinada brutalmente lamenta.

"Uma sociedade que não tem condições de lidar, não tem aonde colocar um menor criminoso, não é uma sociedade organizada", afirma Ari Friedenbach.

Champinha foi transferido agora há pouco para a nova unidade. A Fundação Casa informou que convocou funcionários, em caráter de emergência, para cuidar dele e reafirmou que vai recorrer da decisão da Justiça.


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